Resumo da obra - Seminário dos ratos

Essa famosa coletânea de 14 contos de Lygia Fagundes Talles, renomada romancista brasileira da fase pós modernista, mistura a fantasia e a realidade trágica da classe média paulista. O livro não retrata superficialmente o cotidiano dos personagens, mas sim, sua narrativa traz as raízes do existencialismo de forma sutil e reveladora do caráter humano. Nesta obra, os elementos fogem à lógica do que é possível entender do mundo, provocando o estranhamento no leitor, no entanto, também há a magia com a instauração de uma nova dialética a partir de intertextualidade e descrições singulares.

A seguir, encontram-se resumos dos capítulos de "Seminário de ratos", cujas histórias não apresentam conexão evidente, no entanto, as travessias mais fascinantes surgem de uma forma unicamente interligada as distinções rígidas: impulso e intenção, cultura e natureza, fato e imaginação, sempre com o tom crítico de Lygia beirando o fictício... ou não.

As formigas

Duas primas universitárias se mudam para um quarto em um sótão decrépito. As jovens são surpresas pela presença de um caixote de ossos de anão deixado pelo morador anterior, segundo a dona da moradia, além da rotineira trilha de formigas ruivas que atravessam o quarto em direção aos ossos toda madrugada. Ao longo dos dias, a narradora personagem revela sonhos macabros que tem com um anão e sobre o trabalho que esses suspeitos insetos estão realizando: organizaram os ossos para a posição correta da anatomia humana. O conto finaliza esse mistério com as pobres primas fugindo da casa quando apenas faltava o fêmur para o anão estar montado.

Senhor Diretor

Maria Emília é um senhora indignada com a erotização nos comportamentos atuais. A professora paulista aposentada decide escrever uma carta ao Senhor Diretor do Jornal da Tarde após ver uma obscena capa de revista com um jovem casal de poucas roupas e molhados em uma bancada de jornal. Ela reflete sobre a decadência encontrada no constante pudor relevado socialmente, na poluição das ruas, no desrespeito, no consumismo enquanto relembra algumas memórias. Maria decide ir ao cinema neste dia, onde se espantou com as indecências do filme e dos casais de telespectadores apaixonados. Todavia, em seu subconsciente manifesta-se a tristeza diante da sua vida com vontades carnais sempre reprimidas, a infelicidade de uma velhice sem a bagagem de experiências juvenis que remetem ao doce de uma fruta suculenta. No final, a senhora virgem seca um pranto guardado no íntimo e se perde no que dizia ao Senhor Diretor.

Tigrela

Esse conto, que traz no nome a fusão entre "tigresa" e "ela", eleva ao imaginável a feminilidade deste animal. A narradora se encontra com Romana, uma amiga bêbada antiga, cujas histórias contam sobre decepções amorosas e um fato curiosíssimo: a presença de uma tigresa de comportamentos extremamente humanos em seu apartamento, a Tigrela. O animal, trazido ainda filhote, não apresentou crescimento exagerados e tem um padrão de capricho, vaidade e ciúmes incompreensíveis, além de ideias suicidas que fazem Ramona trancar portas e janelas. Porém, neste dia que havia retornado ao ex-namorado, Yazbeck, a Tigrela deixa de comer e apresenta sofrimento exagerado, fazendo com que Ramona de a ela uísque e saia de casa deixando a janela escancarada. Ao fim, a amiga bêbada expõe a expectativa de, ao retornar, o porteiro contar que uma jovem nua pulou do prédio, sendo a tigresa, uma mulher de fato.

Herbarium

A história é contada por uma jovem que está vivenciando sua primeira paixão por seu primo mais velho. Para impressionar esse primo, que é um botânico e está doente, a menina decide buscar folhas raras para presenteá-lo no último dia de sua estadia. Entretanto, ao voltar para casa com uma folha que encontrou, ela se depara com seu primo saindo com uma moça bonita. Inicialmente, ela sente raiva e decide não entregar a folha, principalmente por trazer o símbolo da morte, a foice, já previsto pela tia. No entanto, após refletir, ela acaba entregando a folha após ele insistir, revelando o sinal de sua partida para sempre.

A sauna

O conto se passa em uma sauna, onde o protagonista faz uma análise sobre sua vida. Ele é casado com Marina que o acusa de nunca ter amado ninguém. Nesses devaneios, ele se lembra de como conheceu Rosa, namorada de seu melhor amigo que acabou iniciando seu relacionamento. A narrativa traz a consciência do personagem, suas angústias e pecados cometidos em uma espécie de monólogo, revelando que convence Rosa a internar um tio para que pudesse ficar com o quarto e montar um ateliê, ter várias amantes e mentir muito para ela. Após engordar muito e engravidar, ele a obriga a abortar e vender a casa. Ele larga Rosa e vai viajar para a Europa, onde conhece Marina. Na lembrança do do seu quadro com seu primeiro amor e em uma chuva de arrependimentos, o protagonista expõe seu pranto mais sincero, encerrando o conto ao terminar o tempo na sauna.

Pomba enamorada ou Uma história de amor

Aqui, a temática do amor platônico é vivenciado por uma mulher em relação a um homem chamado Antenor, conhecido por sua rudeza. A mulher nunca conseguiu ganhar a simpatia dele, e, com o tempo, ambos seguem com suas vidas separadamente. Entretanto, em determinado momento, a protagonista consulta uma cartomante que revelou que o verdadeiro amor dela chegaria pela rodoviária. A mulher, já idosa e avó, vai à rodoviária na esperança de concretizar um amor que nunca se concretizou ao longo dos anos.

WM

Esse conto descreve uma trama centrada em Wlado. Incialmente, ele está no hospital para acompanhar sua irmã Wanda, que possui uma obsessão pelas iniciais "WM", uma maneira que sua irmã o ensinou a escrever seu nome, com um "M" ao contrário. Ao longo da história, os fragmentos de lembranças e a realidade se entrelaçam, criando um passado onde a mãe trocou os filhos pelo sucesso da carreira de atriz de forma doentia e o problema psicológico de Wanda se intensificava a ponto de cortar as iniciais até no corpo da namorada de Wlado, Wing. No entanto, no final de descobre que ele era, na verdade, o personagem esquizofrênico que está internado no hospital psiquiátrico por ter assassinado Wing.

Lua crescente em Amsterdã

Essa narrativa fantástica explorando os desgastes de um relacionamento amoroso. A história apresenta um casal que decide renunciar a tudo para se aventurar pelo mundo. Contudo, os planos não se concretizam como esperado, e eles acabam dormindo em uma praça em Amsterdã. Enfrentando fome enquanto observam uma menina com um pedaço de bolo, a menina foge e, desiludidos, decidem dormir no banco da praça. A reviravolta ocorre quando a menina retorna para entregar o bolo ao casal, mas só encontra um passarinho bicando uma borboleta. O conto explora metaforicamente as complexidades das relações amorosas em uma praça como cenário para a reflexão sobre a efemeridade e a imprevisibilidade do amor.

O x do problema

Como uma crítica à alienação, essa narrativa descreve uma família de baixa renda imersa na ilusão proporcionada pela televisão com muitos problemas em uma casinha humilde sujeita a alagamentos, Eles assistem a um programa que promete conceder 1 milhão se o personagem principal acertar as perguntas. A condição precária da família destaca a disparidade entre a realidade difícil em que vivem e a fantasia oferecida pelo programa televisivo. Apesar das adversidades que enfrentam, os personagens colocam suas esperanças no sucesso da televisão, como uma distração que afasta as pessoas das questões reais enfrentadas e criam uma desconexão entre as expectativas geradas pela mídia e a dura realidade cotidiana.

A mão no ombro

O sonho de um homem supersticioso é o tema central, em que uma visão simbólica da morte, que coloca a mão em seu ombro durante um passeio em um bosque único e com elementos do seu passado, o que deixa-o reflexivo durante o dia. A situação se intensifica quando, ao entrar em seu carro, ele experimenta a sensação de ter seu ombro tocado levemente, reavivando o pressentimento. A narrativa, ao ironizar valores burgueses e a sociedade das aparências, sugere uma critica a ênfase na superficialidade e na busca por uma imagem socialmente aceitável.

A presença Este é um conto que se desenrola em um hotel exclusivo para idosos, onde a rotina tranquila é perturbada pela chegada provocativa de um jovem. A reação dos idosos toma uma direção vingativa. Eles decidem envenenar o jovem como resposta à sua presença disruptiva. É perceptível uma reflexão sobre a intolerância e as reações extremas diante de situações que desafiam a norma estabelecida, destacando como a resistência à diversidade pode levar a atitudes letais.

Noturno amarelo

Este conto é centrado na protagonista Laura, cuja narrativa é permeada pela consciência dos erros e sofrimentos que ela causou a outras pessoas ao longo de sua vida. É destaca o remorso de Laura, especialmente em relação à sua avó, que ela quase nunca visitava, e ao seu avô, de quem ela roubou uma peça de xadrez. O enredo oferece uma narrativa introspectiva após ela e seu namorado pararem em uma estrada e ela entrar na floresta, onde encontra, ou imagina encontrar, a casa com seus familiares, passando por diálogos que revelam seu subconsciente.

A consulta

Este conto humorístico narra a situação em que o psiquiatra, Dr. Ramadian, precisa sair por um momento enquanto seu paciente Max espera por uma consulta. Para não deixar Max ocioso, o médico pede a ele que atenda os telefonemas e anote recados, como já havia feito. Um paciente, ao chegar ao consultório, encontra apenas Max, que finge ser o doutor. O tom de humor é acentuado ao Max se ver na posição de dar orientações a um paciente, no entanto, ao invés de oferecer conselhos convencionais e prudentes, sugere e ordena que o paciente supere o medo da morte se matando. No fim, o paciente sai sem lembrar o que ia fazer e Max não revela nada, apenas ironiza mentalmente o elogio do doutor sobre estar quase curado.

Seminário dos ratos

No último conto observa-se uma crítica social que aborda temas como corrupção, hierarquias e displicência governamental. A história se desenrola em uma casa de campo onde líderes de diversas nações se reúnem para discutir a situação dos ratos que estão tomando controle do Brasil, após deixarem a população em estado miserável. Claramente, o intuito da reunião era apenas promover a imagem sobre o governo e proporcionar conforto e segurança aos políticos. O desfecho é marcado por uma reviravolta dos ratos invadindo a casa e devoram tudo, comida, pessoas, roupas e móveis. Curiosamente, o único sobrevivente é o secretário que organizou a reunião, pois se esconde dentro da geladeira.