Vontade de escrever

Descera as escadas, as mesmas que sua gata escura como a noite se enroscava: Trivia, o felino mais amoroso e caótico já concebido. Sentia-se bem, a larga camiseta preta há muito, desbotada, em conjunto com a calça cor verde militar, estilo jogger, eram-lhe satisfatórios. Descendo, se encostou e observou a pequena plantação de vegetais de seus pais. Eram pequenas porém curiosamente adoráveis. Logo, teve seu olhar desviado quando o ser imprevisível começa a provocá-la. Não entendia como podia estar um dia tão agradável. Marcavam passado das 17:15h, e o cair da noite lhe arrancavam uns suspiros. Acabou continuando e seguindo os passos daquela cativante gata, que facilmente provocava as singelas e incomuns gargalhadas após suas costumeiras mordidinhas. Decidiu-se cobrar daquele ser impiedoso e tomou-a nos braços de repente, sentiu a curta e calorosa pelagem negra. Certamente, Trivia não deixaria barato e logo encontrou o caminho para se libertar da humana irritante. A pobre garota sorria. Não entendia o porquê de se sentir tão leve, tão desocupa; deveria estar perdendo tempo. Talvez só lhe rendesse algumas linhas de uma crônica, no mínimo, um pequeno soneto sairia; por isso tinha que organizar rapidamente aquelas palavras que lhe viam em um momento inspirador como aquele. Mas acabou notando a luz solar refletindo nos óculos, e se distraiu. Por razão desconhecida, sempre considerou a beleza profunda do efeito notado no canto do rosto. Quase subitamente, as fotos do Pinterest lhe vieram à cabeça. Trivia não perdoou aquele desvio de seu próprio ser esbelto e atacou ferozmente as pernas de sua dona, dando um abraço mortal. Aquilo foi o suficiente para levá-la ao chão: lugar propicio para o predador ferir sua presa mais eficientemente. Neste instante, ela notou a grama seca não há incomodava. Sua família havia plantado ela há algumas semanas, antes do isolamento, e, infelizmente, o tempo seca não favoreceu o crescimento desejado. Quase foi buscar a mangueira numa tentativa de ressuscitar as folhas sem vidas mas logo abandonou a ideia. Os cachos dourados lhe pendiam a cabeça e pensou consigo que o sol desvelado lhe davam uma aparecia puramente literária, daquelas obras majestosas, como Rivendel de Tolkien. Foi, então, que o bater de bola lhe chegou aos ouvidos. Surpreendentemente, não à deixara incomodada, como sempre, ela só não ligava e isso, aprovou
Mais uma vez, sentia ardendo o desejo de tirar proveito daquele sonho, rabiscando alguma versos nas notas do seu celular. Se ao menos tivesse o celular. Acabou deixando na cadeiras que iniciara a leitura de seu livro.
Ah, o livro. Neuromancer fez florescer dentro do seu inocente ser uma liberdade futurista memorável. Nunca antes tinha provado o gosto de um dialeto impuro e, em contra partida, revolucionário em sua composição.
E isso apenas nas primeiras trinta e quatro páginas.
Enfim, via-se levantando do chão e Indo em direção à essas teclas. A brisa gélida cortava os lábios ressecados. Prevê que não tem mais o que digitar... só essa forma indefinida de orações que lhe causara certo bem estar.
Seria provável que mais algum neste planeta compreenda a magnitude presente nos minutos desperdiçados de uma quarta-feira qualquer? Uma quarta feira que pedia aos céus, que perdurassem em toda a sua ínfima existência?
Ao menos, rendera-lhe mais que um soneto.
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