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Releitura Machado de Assis

milenakammer3


Versos a Lua

Evita estes versos que escrevi delirando
Como um fim à minha serenidade,
Como o descompromisso do meu ser, e ando
até quando ouvir-se a insanidade
Esquece estes versos que escrevi delirando.

Dançava-se na euforia
como pena despretensiosa,
Curiosidade sobre a tua autoria
Brandia a luz sã e graciosa,
Afundadava-se na euforia.

Cheia de vã melancolia, vazia de medos
Carrega a asa inacabada
Pobres enredos e segredos,
Contudo, no peito, roubada
Cheia de vã melancolia, vazia de medos.

Fugida aos olhares
Pude declamar meu soneto;
E as palavras nuas ou vulgares
Nem o vazio recebeu,
Fugidas aos olhares.

O que vale tua poesia?
Noto que em teu estado ébrio,
Caoticamente, fez-se anestesia
Do meu efeito deletério
O que vale tua poesia?

Embora enfrente meu tempo escasso
Minha carne irá observar-te, condenada
Absorvendo-te de onde estás; 
Ostentará teu brilho imensurável,
Embora separa-nos os cruéis
Trezentos e oitenta e quatro mil quilômetros,
Como gelo de Despina rigoroso,
Que com vigor só castiga;
Faz-me desejar percorrer
Trezentos e oitenta e quatro mil quilômetros.

Evita estes versos que escrevi delirando
Como um fim à minha serenidade,
Como o descompromisso do meu ser, e ando
Até quando ouvir-se a insanidade
Esquece estes versos que escrevi delirando.


 

Original

Versos a Corina – V

Guarda estes versos que escrevi chorando
Como um alivio à minha soledade,
Como um dever do meu amor; e quando
Houver em ti um eco de saudade,
Beija estes versos que escrevi chorando.

Único em meio das paixões vulgares,
Fui a teus pés queimar minh'alma ansiosa,
Como se queima o óleo ante os altares;
Tive a paixão indômita e fogosa,
Única em meio das paixões vulgares.

Cheio de amor, vazio de esperança,
Dei para ti os meus primeiros passos;
Minha ilusão fez-me, talvez, criança;
E eu pretendi dormir aos teus abraços,
Cheio de amor, vazio de esperança.

Refugiado à sombra do mistério
Pude cantar meu hino doloroso;
E o mundo ouviu o som doce ou funéreo
Sem conhecer o coração ansioso
Refugiado à sombra do mistério.

Mas eu que posso contra a sorte esquiva?
Vejo que em teus olhares de princesa
Transluz uma alma ardente e compassiva
Capaz de reanimar minha incerteza;
Mas eu que posso contra a sorte esquiva? 

Embora fujas aos meus olhos tristes
Minh'alma irá saudosa, enamorada,
Acercar-se de ti lá onde existes;
Ouvirás minha lira apaixonada,
Embora fujas aos meus olhos tristes, 
Talvez um dia meu amor se extinga,
Como fogo de Vesta mal cuidado,
Que sem o zelo da Vestal não vinga;
Na ausência e no silêncio condenado
Talvez um dia meu amor se extinga,

Como um réu indefeso e abandonado,
Fatalidade, curvo-me ao teu gesto;
E se a perseguição me tem cansado,
Embora, escutarei o teu aresto,
Como um réu indefeso e abandonado,


Então não busques reavivar a chama.
Evoca apenas a lembrança casta
Do fundo amor daquele que não ama;
Esta consolação apenas hasta;
Então não busques reavivar a chama.

Guarda estes versos que escrevi chorando,
Como um alívio à minha soledade,
Como um dever do meu amor; e quando
Houver em ti um eco de saudade,
Beija estes versos que escrevi chorando.

 
 
 

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